Preciso de ti. Preciso de voltar a acreditar que a chuva passa. Acreditar que o sol vem. Que fica tudo bem mesmo quando isso é impossível.
o mundo já parou de novo, nada faz sentido. A chuva volta todos os dias. O sol já não vem outra vez. E eu?
Eu aqui estou, como sempre.
Já é de mais sentir que não sirvo para nada. Nem para a minha casa, nem para a minha família, nem para a minha filha. Dói tanto.
As palavras não chegam, não saem, é difícil passar pela trovoada toda outra vez. Mas será que eu saí mesmo da outra? Apenas ficou ennovado, deixou de chover por momentos, mas a trovoada esteve sempre aqui, não passou, não passa.
Não sei bem o que estou cá a fazer. Arranjo mil e uma coisas para tentar sair desta tempestade mas quanto mais raios de arco-íris mais pressão, mais eles se transformam em raios de trovões. Nada do que faço presta. Nada do que faço serve.
Já não sei onde ir buscar mais forças. Já não aguento mais não ter com quem partilhar esta chuva. Sinto o mundo às costas, sinto a casa, o trabalho, a família, tudo em cima de mim sozinha.
Não tenho forças para mais, quero parar, não consigo.
Fiz a minha filha chorar e não foi para a educar, foi por um capricho meu. Não faz sentido isto. Não é possível acontecer uma coisa destas. Dói-me tanto. Agora choro. Sei que estive muito mal. Culpo-me por isso e a tempestade carregou forte, com todos os relâmpagos, trovões, vento…
Não me apercebi dos problemas da minha casa, não fui uma hipótese para os resolver. E ainda mais o tempo se enovoou.
Agora, depois de escrever, acalmou, chove bastante mas já não há trovões. Faz um relâmpago sempre que me lembro que é com um papel que desabafo. Não há mais hipóteses.
Choro… Dói muito cá dentro, mas vou com a certeza de que não sirvo para nada e que a tempestade está para ficar.
17/06/2021